Para começar, sugiro que use essa trilha sonora...
ela pode ser inspiradora e ajudar na leitura!
Tem sido dias difíceis, com o distanciamento social, o fechamento do comércio. A tecnologia tratou de diminuir as distâncias e hoje vivemos parte do dia em "lives", "calls", chamadas de vídeo, mensagens instantâneas... mas... que falta faz um abraço! Que falta faz encostar num balcão e tomar uma cerveja! Que falta faz juntar a família para um almoço de domingo, um churrasco! Que falta faz poder caminhar no parque ou dar um mergulho na praia!
Nesses dias tenho pensado no quanto abdicamos de coisas cotidianas em nome dos nossos compromissos. Estamos sempre trabalhando muito, sempre atrasados (principalmente por conta do trânsito), perseguindo metas. Atualmente estamos em casa, cumprindo nossos compromissos, e vivendo a vida de uma outra maneira, numa outra velocidade e, ainda sim, acelerada e reinventando a rotina do lar que, agora, também é ambiente de trabalho.
Li "A Peste", de Albert Camus, e "Admirável Mundo Novo", de Aldous Huxley, quando estava no colegial. Foram obras que me chamaram bastante a atenção, mas não poderia imaginar que, um dia, me depararia com uma realidade tão próxima das obras literárias. Na graduação me debrucei sobre livros de divulgação e ficção científica, tendo uma grande predileção por Isaac Asimov... mas aí a minha cabeça já era outra. Fã de Carl Sagan, assiti "Cosmos" na biblioteca do Instituto de Física da Universidade de São Paulo, onde tinha cadeira cativa. Depois foi a vez de assistir "Universo Mecânico". Cursei "História da Matemática I", "História da Matemática II" e "História da Ciência" durante o curso de Matemática. Comecei a entender que o mundo não pode evoluir sem que a sua História seja lembrada, contada, recontada, considerada (sim, eu era avessa ao estudo de História até ingressar na graduação e passar por todas essas experiências, que citei anteriormente, para enxergar o quão importante é sabermos quais foram os passos dados pela Humanidade para chegarmos até aqui e se inspirando em sua Linha do Tempo para dar os próximos passos).
Sempre gostei de ficção científica, desde criança, haja vista os livros que sempre gostei de ler, os filmes e desenhos animados que sempre me encantaram. Depois entendi que todos os autores dessas histórias incríveis tinham alguma formação ou envolvimento com a Ciência porque, sim, eles conseguiam vislumbrar tempos posteriores (dias, semanas, meses, anos, décadas). Talvez por isso as minhas relações com as Ciências foram se estreitando cada vez mais.
A minha profissão me mostrou - e me mostra todos os dias - que as Ciências devem ser encaradas no seu sentido mais amplo. Não é porque faço Matemática que não posso gostar de poesia ou de ler um romance ou de participar de uma discussão política (saudável) ou de preservar o meio ambiente. Ao longo dos anos tenho visto que as Humanas, as Exatas e as Biológicas é o que chamamos de Ciência, no seu sentido mais amplo. Sim, é preciso ser mais humano em meio à exatidão dos números, é preciso ser altamente preciso nas tomadas de decisões (e uso a precisão, uma vez que tomadas de decisões implicam em riscos, então não estamos lidando com exatidão).
Tenho me assustando muito com as confusões dos conceitos, ao longo desse período pandêmico. No início estava acompanhando grupos de discussão, lia os artigos mais recentes nas melhores fontes de publicações científicas a respeito do assunto, acompanhava coletivas dos Governos e telejornais. Sim, é um mundo de informações... mas, de um tempo para cá, acabei deixando tudo isso de lado. Algumas continhas que fiz, no início, bateram... talvez ainda estejam batendo, pois há muita informação omitida (o que me dá medo e nervoso), mas essa é a nossa realidade. Acabei me sentindo sobrecarregada de informações e isso começou a gerar mais angústia, tristeza, apreensão... preferi trocar por música e outros estudos.
Algumas vezes me vi chateada e, na maioria das vezes, muito reflexiva a respeito de tudo que está acontecendo. Durante 21 anos de profissão, já ministrei e fiz cursos EaD. Talvez porque já conhecia a modalidade, sabia lidar melhor com a distância e usava o conhecimento como meio e fim. Hoje, ministrando aulas online para os meus alunos, sinto uma estranheza porque sei que estão todos ali, conectados comigo, mas falta ver suas feições, se estão entendendo o que estou falando, se estão acompanhando a aula... faltam as piadinhas, as interações, o "Bom Dia!" coletivo em resposta ao meu "Bom Dia!"... sem falar no contato com a equipe de trabalho e as conversas regadas a muito café... Sinto uma saudade danada da sala de aula presencial!
A reflexão se dá em forma de questionamento, considerando as mudanças que estão ocorrendo em mim: será que sairemos melhores depois que tudo isso passar? Ou sairemos piores? Um grande professor de História, do colegial, dizia que "não existem culturas superiores ou inferiores, existem culturas diferentes"... seguindo essa linha, então a pergunta certa é: será que sairemos diferentes depois que tudo isso passar? Quão diferentes estaremos? O que essas diferenças impactarão na retomada da nossa velha rotina (que também deve sofrer alterações).
Foto publicada na FSP em 30 de Março de 2020, retrata o
casal de enfermeiros norte-americano Mindy Brock e Ben Cayer.
(Nicole Hubbard, da Associated Press)
A impossibilidade do toque, do beijo, do abraço, das relações humanas com sua humanidade (tratando seres humanos como humanos e não como máquinas) têm sido difíceis aceitar e não voltarão de uma hora para a outra. Não vejo a hora de poder beijar a abraçar as pessoas que eu amo, de estarmos juntos, de conversarmos e discutirmos as coisas olhos nos olhos, de rir, de chorar (e que seja de alegria, mas se for de tristeza, que tenha o ombro amigo ou o colo para poder acolher, permitir desabar e dar aquela ajuda para reerguer). E, claro, não podemos nos esquecer dos profissionais da área da Saúde que têm se dedicado de maneira ímpar para dar conta do recado - desde o tratamento inicial até o momento da alta ou da dura necessidade de informar, por vídeo, a partida de um ente a sua respectiva família; além dos profissionais dos serviços essenciais que, diante das tomadas de decisões dos nossos governantes, têm se arriscado para garantir que não nos falte o essencial.
Os desafios têm sido inúmeros... as incertezas e a falta de perspectivas, por vezes, batem à porta e querem entrar de qualquer maneira trazendo o fracasso e a falência como companhias. O comércio, a indústria, os negócios vão seguindo sem muito rumo e, por vezes, com um rumo bem certo. Há dias em que tudo se apresenta de forma desesperadora, devastadora, uma derrocada sem possibilidade de volta. Em momentos assim, olhar para o passado ajuda a respirar fundo e reerguer a cabeça para olhar o presente e ir além, vislumbrando o futuro. Tem sido um dos exercício mais difíceis de fazer nesse momento em que vivemos, repleto de "nãos" ("não vai dar", "não vou conseguir", "não temos dinheiro", "não temos interesse", "não temos condições", "não temos como nos manter", "não tem jeito", "não quero saber"... "não"... "não"... "não") e de apatia.
Isso tudo sem contar com a dura realidade de uma grande porcentagem da população que sequer tem como planejar o seu dia, pois nem sabe se o fim do dia chegará ou se um novo dia amanhecerá. Com tantas bocas para alimentar, com mentes brilhantes sem condições de acessar o mundo, com talentos incríveis se desdobrando em inúmeros turnos para dar conta das contas e da própria sobrevivência.
Esse desabafo poderia ter tudo para criticar as mazelas políticas e todos os outros percalços que nos rodeiam, mas, apesar do meu imenso descontentamento com tantas decisões tomadas sem muitos critérios e de todo dinheiro público (meu e seu) indo parar em cofres que não são os públicos, enriquecendo as custas de contratos sem licitações, etc... (isso me renderia algumas tantas laudas e me incomodam demais), resolvi HOJE, pelos menos HOJE, levantar a bola da humanidade.
Quando me questionei sobre o quão diferente sairemos de tudo isso, o que realmente espero é que saiamos mais humanos. Sim, as planilhas são de suma importância (nossa sobrevivência depende delas... mais do que isso, depende do que elas retratam - uma maneira de materializar ações e cifras), mas não podemos nos esquecer que somos seres humanos passíveis de erros e, também, munidos de uma capacidade quase infinita de adaptação ao meio, às situações diversas e adversas. É preciso empatia (é necessário que nos coloquemos no lugar do outro antes de falar ou fazer qualquer coisa - eu sei como o ser humano Nelson Teich, então Ministro da Saúde, se sentiu na coletiva do "Gabinete de Crise" no dia 11 de Maio de 2020: péssimo, reles, insignificante, um zero à esquerda, um bosta... eu sei!) e resiliência (entender o que está ao nosso alcance e fazê-lo com maestria, aceitar o que não é possível fazer ou que está fora do nosso alcance de fazer, olhar para os erros e fracassos e, dali, tirar forças para seguir adiante, buscando o melhor caminho, aprendendo e evoluindo, sempre!).
Sei que acabou virando um textão... mas quero finalizar com um registro fotográfico que fiz na fria tarde de ontem. sexta-feira, 15/05/20... 15 + 05 = 20 ;-), que dispensa legendas e tem como objetivo trazer esperança, um pouquinho de paz, inspiração e aquecer nossos corações.
Um casal empoleirado, lado a lado,
fazendo companhia um ao outro, numa
fria tarde de sexta-feira.