sábado, 28 de fevereiro de 2015

Cada Gota de Chuva...

Cada gota de chuva é uma alegria,
Mas, às vezes, é uma tristeza...
Passa a vida, finda mais um dia
E, de repente, posso contemplar sua beleza.

Depois de uma tarde tempestuosa,
Um arco-íris alegra o céu...
É uma delicadeza vertiginosa
Que transcende caneta e papel...

Um momento instantâneo de felicidade...
Uma mistura de percepções e abstrações
Que tomam conta da minha sanidade.

Cada gota de chuva é um sentimento
Que transborda em nossos olhos...
Pequena poesia de um breve descontentamento.




Apertando o pause no fim da tarde, depois de uma tempestade (IME-USP).

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Whiplash - Em Busca da Perfeição

Um dia desses resolvi "brincar" diante de uma bateria... Adorei a experiência e quem sabe, um dia, eu volte a me aventurar com minhas baquetas. O fato é que quem já aprendeu (ou tentou aprender) a tocar algum instrumento musical precisou treinar os fundamentos uma, duas, três, quatro, cinco, ... , n vezes. Precisa criar calo, precisa desenvolver a agilidade das mãos, dos dedos, dos pés... são tantas coisas, mas quando começamos a ouvir os resultados, a satisfação é imensa... vale cada calo, cada esparadrapo nos dedos, cada bronca do professor, cada "pare e comece de novo!"... A primeira vez que consegui executar uma música inteira, sem errar, fiquei extremamente feliz... e a minha vontade era de continuar ali por horas e horas, estudando e treinando até conseguir executar a próxima música...
Sempre gostei muito de música e com o passar do tempo o meu leque foi abrindo... saí das músicas psicodélicas dos anos 80, que permearam a minha infância,  para o rock grunge dos anos 90... e foi nessa década que me deparei com os clássicos do rock, com a música erudita, com o jazz, com vários outros estilos musicais que nunca tinha ouvido antes e fui treinando os meus ouvidos, fui sentindo a música dentro de mim, fui aprendendo a apreciar a música sem me importar de onde ela era. É incrível o poder que a música exerce sobre nós: não precisamos falar o mesmo idioma, nos entendemos através de acordes... a música tem um poder de aproximar pessoas, nações... tem o poder de transformar vidas.


Quando assisti "Whiplash - Em Busca da Perfeição", fiquei imediatamente encantada pela trilha sonora. O efeito da música, neste caso, faz a gente entrar na história... é quase uma entrega, com direito a sentir os graves do baixo, do bumbo... uma experiência! Ao longo do longa é impossível não extrapolar a história de Andrew, um jovem baterista que decide estudar na melhor universidade de música e pretende tornar-se o melhor baterista do mundo. Ele encontra pela frente o professor Fletcher, que deseja formar os melhores músicos do mundo. Daí creio seja possível imaginar o eletrizante encontro desses dois, principalmente quando você ouve o seu professor olhar bem prá você e dizer "Não há duas palavras mais perigosas na nossa vida do que 'bom trabalho' ". Muito suor, sangue, competição, bullying, humilhações, descrenças, agonia, êxtase... Não dá para descrever, é necessário assistir e sentir.

Trailer de "Whiplash - Em Busca da Perfeição".

Obviamente o que se vê no Conservatório Shaffer também pode ser visto em outros ambientes educacionais, com muita competição, com a constante busca pela perfeição naquilo que se faz e, também, na relação entre professor e aluno, além do prazer pelo conhecimento.
Há inúmeras maneiras de incentivar alguém a fazer algo... e essas maneiras vão de palavras de incentivo positivas até meios nada ortodoxos. Algumas vezes um comentário depreciativo de um professor pode levar um aluno a superar seus limites e provar que não é nada daquilo que está sendo dito, sem ônus, ou pode causar um efeito contrário, fazendo o aluno desistir de tudo. Quantas vezes já presenciamos isso em nossa vida? Qual é o limite entre o incentivo e a violência, o estímulo e a crueldade? Há quem acredite piamente que os fins justificam os meios, sempre. Será? Como aluna, vi e senti isso muitas vezes, ao longo da minha vida acadêmica, e prometi a mim mesma que jamais reproduziria em minha prática docente certas atitudes, que desdém a capacidade e o potencial de um aluno. É certo que alguns não servem para aquilo que estão se propondo fazer e precisam encontrar um outro caminho, mas isso deve ocorrer de uma forma natural - ainda que a naturalidade disso, além de uma conversa amistosa, seja um mundo de DP´s - sem que o aluno se sinta incapaz, tão incapaz a ponto de questionar a sua própria existência. Todo professor, ainda que não queira, exerce certo poder sobre seus alunos... inspira, aponta caminhos, é severo... mas ser severo não significa necessariamente ser cruel. Fazer cobranças, apontar caminhos, incentivar... isso não necessariamente precisa vir num tom de camaradagem, mas pode vir num tom que não seja de crueldade. O professor não deve ser um algoz de seu aluno.
Saí da sala encantada com as músicas... fui para casa cantarolando, na minha cabeça, "Take Five", que nem faz parte da trilha sonora do filme, mas é uma música que quando vejo sendo executada pelo The Dave Brubeck Quartet me encanta. É um verdadeiro trabalho em equipe, sem que cada talento se sobreponha a outro. São todos talentosos, se respeitam, brilham, e o resultado final é uma música que faz bem para a alma. Parece ser esse o princípio de uma banda de jazz ou de qualquer outra banda ou de qualquer outra iniciativa coletiva (incluindo uma sala de aula, um grupo de pesquisa, uma instituição de ensino).


The Dave Brubeck Quartet - "Take Five".

Vale muito a pena assistir esse filme, mesmo aqueles que não gostam de jazz. A história vai além e nos faz questionar certas atitudes que tomamos, principalmente aquela de nos recusarmos a pedir ajuda mesmo quando vemos que as coisas fugiram do nosso controle. Reconhecer que não estamos dando conta das coisas é horrível, se sempre estamos a frente de tudo que fazemos, mas ignorar e necessidade de ajuda pode trazer consequências irreversíveis. Vale muito a pena buscar o equilíbrio e aprender a dosar nossos esforços na direção dos resultados que buscamos. Essa é uma daquelas lições que devem ser estudadas na teoria e, principalmente, na prática. Requer treino... às vezes exaustivos treinos para ser compreendida... e, ainda sim, não será plenamente aprendida pois, assim como no jazz, contamos com alguns improvisos... diria que na vida contamos com alguns imprevistos e precisamos saber como reagir a isso, precisamos saber "improvisar".

Trilha sonora de "Whiplash - Em Busca da Perfeição".