Enquanto escrevo estes versos, meu coração chora...
Sente a sua falta e espera a sua chegada, sem demora...
Não tenho tempo para chorar, devo apenas prosseguir,
Compreender a sua ausência e, de alguma forma, sorrir...
Enquanto escrevo estes versos, minhas mãos tremem,
Pois, ainda que eu relute, inexplicavelmente pressentem
Que não tocarão mais o seu corpo, não sentirão seus beijos...
Meu corpo inteiro deve acostumar-se a inibir nossos desejos.
Enquanto escrevo estes versos, perdidos no tempo e no espaço,
Apenas queria tê-lo comigo, num demorado e caloroso abraço...
Agora levarei na lembrança o seu gosto, o seu cheiro, o seu calor, o nosso amor...
Enquanto escrevo estes versos, vejo que o tempo passou, sem piedade,
Já faz tanto tempo... nem me dei conta do quanto privei-me da liberdade
De viver a vida... Viver com você... Viver sem você... Apenas viver...
Já havia assistido "Into the Wild" ("Na Natureza Selvagem") pelo menos umas cinco vezes... inclusive pude assisti-lo no cinema, em sua estreia. Não sei quantas vezes ouvi as músicas que compõem a sua trilha sonora... e recentemente li o livro. (O filme é baseado no livro, de mesmo título, de Jon Krakauer, e trata da história de um jovem de 22 anos que resolveu viajar pelos Estados Unidos até a maior de suas viagens: o Alasca. Produzido em 2007, a direção é de Sean Penn e a trilha sonora é de Eddie Vedder (<3), Michel Brook e Kaki King.)
É impossível não pensar na história de Christopher "Alexander Supertramp" J. McCandless. Num primeiro momento dá vontade de largar tudo, colocar uma mochila nas costas e desbravar o mundo... é libertário... depois vem um sentimento de "meu, como esse rapaz foi ignorante, burro!"... e depois vem um sentimento de "putz! como sou bunda-mole!"...
É difícil julgar a escolha de Chris. Certamente ele cometeu alguns erros grosseiros que custaram a sua vida, mas, ao mesmo tempo, resolveu descobrir-se na forma mais primitiva e íntima, tentando libertar-se de qualquer estereótipo imposto pela sociedade.
Autorretrato Christopher J. McCandless, ou Alexander Supertramp,
em frente ao ônibus 142, onde viveu sua última viagem.
Cada um de nós tem o seu jeito de conhecer-se, de reconhecer-se, de descobrir-se... alguns recorrem à meditação, outros à religião, há aqueles que recorrem às drogas ou às terapias ou ao isolamento... Cada caminho escolhido está diretamente relacionado aos contentamentos e descontentamentos mundanos, às experiências de vida, aos bons e maus momentos... Penso que passamos a vida toda buscando respostas para perguntas tais como "de onde viemos?", "para onde vamos?", "por que estamos aqui?", "quem somos?", "como sermos feliz?", "como buscarmos a felicidade?", "podemos ser felizes para sempre?", "como reconhecermos o verdadeiro amor?"... Não creio que consigamos responder todas essas perguntas de forma categórica... elas têm um quê muito subjetivo... são absolutamente existenciais... Para alguns grupos, as respostas serão de senso comum, canônicas... para outros, totalmente divergentes... sem contar aqueles que passarão despercebidamente por esses questionamentos. (E cada um de nós tem as suas maneiras de fugir da realidade que, por vezes, é estarrecedora, sem recorrer a maior de todas as fugas... ainda que, às vezes, ela parece ser inevitável.)
Às vezes parece ser penoso olharmos para nós mesmos e admitirmos quem somos, com nossos defeitos e qualidades... Muitas vezes buscamos ser infalíveis, certeiros, mas esquecemos que somos seres humanos, passíveis a erros... é mais fácil apontar os erros dos outros do que corrigirmos nossos próprios erros... é muito cômodo criticar e enxergar as imperfeições alheias a nos autoavaliarmos, nos autocriticarmos... e não precisamos fazer isso como se estivéssemos pagando um castigo, cumprindo uma pena, mas devemos encarar como uma oportunidade de nos tornarmos seres humanos menos piores, de evoluirmos. Da mesma forma, devemos reconhecer nossos acertos e nossas qualidades, com humildade, e seguir adiante tornando-nos exemplos para nós mesmos.
Levar o mundo a ferro e fogo, como dizem por aí, não parece ser a melhor opção, uma vez que os extremos nem sempre são os melhores caminhos a serem seguidos o tempo todo para chegarmos ao nosso destino final. Às vezes é necessário seguirmos pelo caminho do meio, entre um extremo e outro, afim de nos compreendermos melhor, de compreendermos o mundo e aqueles que estão ao nosso redor. É claro que vez ou outra fazemos as escolhas erradas e ao darmos por isso bate aquela sensação de fracasso, pois sabemos que toda e qualquer escolha traz consequências e sabemos que teremos um ônus ou, quem sabe, um bônus. Seguir pelo caminho do meio não significa abrirmos mão de nossas crenças, dos nossos posicionamentos, mas ajuda a recalibrar a nossa escala de valores de acordo com as nossas convicções e lutarmos por elas sem que esse caminho seja fator impeditivo para termos alguns extremos a seguir.
Temos, em nosso interior, nossas razões para agirmos da maneira como agimos, sermos da maneira como somos, estarmos da maneira como estamos, e isso de forma alguma deve ignorar a existência daqueles que estão ao nosso redor... devemos saber conviver com as diferenças, com as adversidades, com a liberdade de escolha, com o livre arbítrio... e isso exige de nós certo grau de tolerância, de compreensão, independente de concordarmos ou não. Respeitar as posições alheias não significa sermos submissos a elas, mas, quem sabe, reforçar aquilo que acreditamos e rever alguns outros pontos (talvez aqueles mais obscuros).
Ao longo do tempo precisamos ser protagonistas da nossa própria história, ao invés de sermos coadjuvantes. Isso requer coragem para abrir mão de alguns dogmas, abdicar alguns bens e seguir adiante, sem deixarmos de compartilhar nossas alegrias e tristezas com aqueles que amamos e mostrar que faz parte da nossa natureza alçarmos voos na direção das nossas realizações pessoais, dos nossos sonhos... daí pode ser que sigamos (ou tenhamos que seguir) por caminhos extremos... por trilhas nada lineares, nada triviais... pela "natureza selvagem".