É... há momentos em que o silêncio basta, às vezes é necessário, às vezes é suficiente, às vezes é necessário e suficiente, outras vezes é intermitente, outras tantas chega a ser estarrecedor... Há momentos em que o silêncio faz mal... Há momentos em que o silêncio faz bem... Há momentos em que o silêncio é delator... O silêncio arma, mas também desarma... É no silêncio que, por vezes, nos encontramos conosco... É no silêncio que os amigos também nos ouvem... É no silêncio que o amor se sufoca... e no silêncio nos entregamos às intimidades... não é preciso dizer uma única palavra... compartilhamos comentos únicos com aqueles que confiamos, pois permitimos que conheçam-nos de maneira profunda a ponto de se disporem a ouvir o silêncio que traduz o grito da alma a plenos pulmões... Às vezes o silêncio é bem-vindo, é providencial, só porque é aquela preciosa oportunidade de ficarmos calados... E assim segue a vida, suplicando por um pouco de silêncio... ou não.
Poema à Boca Fechada
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi:
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando eu me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
José Saramago
"Il Silenzio" interpretado por Melissa Venema, André Rieu e Orquestra.