segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Há alguns momentos em que tudo parece ser de difícil entendimento. Em outros, a realidade aparece de maneira distorcida, pois são muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo... E eis que, de repente, parece que tudo ganha uma novo foco, uma certa nitidez que torna praticamente impossível contestar a verdade (verdade que, algumas vezes, nos negamos a enxergar... a verdade que estarrece nossos olhos).

Tenho vivido alguns momentos de confusão, com muitas questões íntimas e existenciais em aberto. Questões que me fazem duvidar da minha capacidade, da minha competência, das minhas qualidades, das minhas certezas, do que sou... questões que só apontam para os meus defeitos, para as minhas péssimas escolhas, para os erros que cometo, para os meus fracassos, para as minhas desilusões... Tem sido muito difícil lidar com tantas coisas ao mesmo tempo, nesses últimos meses, e de ordens de grandeza muito variadas.

Fico na expectativa de acertar, de trazer de volta a minha capacidade de tomar decisões acertadas, de fazer as coisas mais corretamente e com qualidade... aquela qualidade que gostaria muito que voltasse a ser uma das minhas marcas... além do meu sorriso... e de uma leveza no meu espírito, no meu ser, de sentir prazer em viver e amar e desejar, de ser livre, de coisas cotidianas que há muito tempo não as sinto em sua plenitude... Mas... o que tenho feito para mudar isso? Como mudar? O que tenho feito na minha vida? O que tenho feito com a minha vida? Por quê? Por que escolher caminhos tão díspares? Por que me equivocar com a certeza? Por que vacilar? Por que acreditar que algumas coisas poderiam ser diferentes? Por que cometer os mesmos erros e novos erros, sempre... e sempre... e sempre???...

Me sinto mal. É claro que me sinto mal... Quem, neste mundo, não se sentiria mal quando se dá conta de que é desprezível (ou pelo menos tem essa sensação, ainda que não seja intencional)? Quando se dá conta de ser descartável tal como uma carta no baralho que não serve para nada? Quando assume o papel de um fantasma, de uma assombração na vida de alguém? Que acaba atuando como coadjuvante da própria vida, ao invés de protagonizá-la?  São sensações horríveis e que só corroboram com o sentir-se mal... aliás são sensações que acentuam ainda mais esse estado.

Por acaso, navegando, me deparei com um poema de Hilda Hilst que retrata muito bem os sentimentos e pensamentos que me acometiam neste momento:


"Existe sempre o mar
sepultando pássaros
renovando soluços
rompendo gestos.

Existe sempre uma partida
começando em ti
tomando forma
e sumindo contigo.

Existe sempre um amigo perdido
um encontro desfeito
e ameaços de pranto na retina.

Existe um canto de glória
iniciado nunca
mas guardado no meu peito
dissolvendo a memória.

E além da canção incontida
do teu amor ausente
além da irrelevada
amargura desta espera
existe sempre a terra
desfazendo
as vontades de Existir."


Considerei, ao longo da minha vida, que sempre existia explicação para tudo. O meu lado racional nunca me deixara abrir mão desta convicção até o momento em que o coração resolveu entrar em campo e mostrar que nem tudo pode ser explicado. Certas coisas, ao longo da nossa vida, simplesmente acontecem... algumas sem o nosso consentimento, inclusive, e quando nos damos conta... já foi! Pascal foi muito feliz ao dizer que "o coração tem razões que a própria razão desconhece"... e como isso me perturba, me atordoa... como essa falta de controle do coração e, consequentemente, a perda da razão me maltratam... quase me enlouquecem... Já vivi muitas coisas, vi tantas outras... e parece ser sempre uma surpresa quando me pego diante da falta de controle dos meus sentimentos e, principalmente, dos meus pensamentos.

Todas as vezes em que penso que algumas coisas poderiam ter sido diferentes e que vejo o momento no qual eu poderia ter tomado uma atitude para impedir a ocorrência de certos episódios ou o desvio do caminho que seguia, sinto um enorme pesar. Não é arrependimento mas um sentimento de culpa por ser permissiva... Sofro muito com isso... perco noites de sono... choro... perco a fome... me martirizo e me culpo por não  ter feito diferente e por chegar ao presente da maneira como chego... com a sensação de que a minha vida foi atropelada por um rolo compressor... repleta de tristeza, infelicidade, frustração, amargura, solidão...

Sei que tenho que ser forte, erguer a cabeça e virar algumas páginas da minha vida. Tenho que ser mais forte do que tudo isso a ponto de encarar as tantas folhas em branco... e preenchê-las com versos inéditos... com novas rimas ou com a absoluta falta delas... com belos versos ou nem tanto...

Sinto algumas faltas... faltam conversas... faltam entendimentos... falta compreensão... falta amor... Ficam as cobranças, fica o dedo na cara apontando e dizendo "eu não disse?"... "você não sabia disso?"... "como você se deixou levar?"... "você só pode estar de brincadeira, né?"... "eu falei, lembra?"... "não faz assim!"... "não fica assim!"... "você entendeu o que eu falei?"... e fica aquela sensação, que não é exatamente um arrependimento por aquilo que já foi consumado, de que as coisas poderiam ter sido diferentes... ficam as promessas que nunca se cumpriram...ficam as palavras jogadas ao vento... fica o tempo dedicado a nada, um tempo que passou e não volta mais... e uma incompreensão infinita!

Chego num momento no qual o cansaço físico, o cansaço mental e o cansaço emocional se aliam às minhas desventuras e, por ora, parece que perco o chão... não consigo reagir... apenas sinto vontade de jogar a toalha... mas, ao mesmo tempo, sei que não é hora. Bem, o jeito é tentar seguir em frente... sem ficar dando passos para trás, sem olhar para trás...mas as feridas ainda estão abertas e doem, doem muito...


Chega um momento em que quase não há lágrimas para chorar... até um certo momento, o choro era a maneira de externar as angústias, as chateações,..., mas tudo isso acaba chegando a um outro nível no qual o choro já parece ser indiferente... a cabeça afundada no travesseiro já não serve de fuga... o trajeto de volta para a casa, distorcido pelas lágrimas que ficam por um fio dão a dimensão de como me sinto. Chega um momento em que a espera parece ser inútil... esperar por uma conversa que nunca acontece... por um abraço que não cabe entre os braços... por uma palavra de carinho, de amor, de amizade... por um momento de realização...  Resta apenas o silêncio... um silêncio estarrecedor, que maltrata o coração, a mente... que diz muito sem dizer nada, absolutamente nada... Um silêncio absoluto... uma pausa infinita no meio de uma linda música... Chega um momento em que cada ato assemelha-se a afiadas lâminas que dilaceram a carne e fazem o coração sangrar... fazem a mente sangrar... machucam... e, silenciosamente, aumentam e diminuem as dores causadas por tantos desencontros, por tantas decepções, por tantos discursos feitos pela metade, por tantos atos inacabados, por algumas promessas, pela espera, ..., por tantas coisas que são difíceis de enumerar... que nem sempre são explícitas aos olhos de quem vê mas são absolutamente escancaradas ao coração dos que sentem.

Não creio que as coisas tivessem que ser desse jeito, que tivesse que chegar nesse ponto... um ponto que coloca bens maiores em risco, dentre eles a amizade. O temor de perder uma amizade é estarrecedor, pois os amigos são aqueles nos quais confiamos muitas coisas (segredos, alegrias, declarações de amor, demonstrações de afeto, momentos de alegria e de tristeza, momentos nos quais precisamos de alguém que esteja ali conosco para dar aquele empurrão, para dar aquele incentivo ou lançar aquele consolo num olhar, num abraço, num ombro, num convite para caminhar em silêncio ou para tomar um café ou para tomar algumas cervejas). Chego, hoje, com a sensação de que cometi muitos erros, mas o que mais me deixa triste é ver que essa cascata de erros colocou algumas amizades em xeque (e tenho a esperança de que não seja xeque-mate). Quero ter forças para superar tudo isso, reverter algumas situações, estreitar novamente os laços com meus amigos, com a minha família... Quero dar a volta por cima e voltar a viver com alegria, com entusiasmo... como nos "velhos tempos".

É impressionante como todas essas coisas mudam a nossa maneira de viver, de encarar a vida, o mundo, as pessoas, os afazeres... A sensação que tenho é a de que passei por um terremoto de alta escala acompanhado por uma tsunami... com todos os meus sentimentos e pensamentos remexidos, alguns devastados... mas a exemplo de todas as nações que passaram por essas catástrofes, num dado momento é necessário dedicar tempo para a reconstrução. Creio que, como em outros momentos da minha vida, tudo isso sirva para que eu me restabeleça com bases mais fortes, mais sólidas... saindo de tudo isso mais forte do que nunca (embora, algumas vezes, eu tenha medo de não conseguir sair dessa como sempre fiz... às vezes tenho a sensação de que não serei tão forte como fui em outros momentos, mas devo me vigiar e seguir adiante).

Sim, o momento é crítico, delicado, difícil... mas creio que não seja o último... Espero que a bonança não tarde a chegar... sei que depende muito de mim, mas não depende única e exclusivamente de mim (principalmente no que diz respeito ao entendimento de algumas coisas... e não sei quando conseguirei obter respostas para algumas perguntas... perguntas essas que me dilaceram a mente e o coração, não sei quando a fuga deixará de ser mais importante que o ato de encarar os desafios e os problemas de frente, que a desconversa dará lugar para um conversa com início, meio e fim).

Bem, o jeito é ter paciência... um pouco mais de paciência... e não abrir mão de viver, não abrir mão dos meus valores (embora tenha aberto mão de algumas convicções e feito coisas que, em alguns momentos da minha vida, critiquei, julguei, temi...)... Hoje o que as pessoas veem não é o que realmente sou... tem uma mão de verniz para aparentar que está tudo bem, por fora, mas está tudo um caos por dentro, tudo remexido, tudo fora do lugar, tudo descalibrado... mas acho que em algum momento esse equilíbrio instável passa e tudo volta ao seu equilíbrio natural. Acho que não é querer demais, né?!?... Gostaria muito que não fosse.

Dani - 21/09/15

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Existência e Unicidade

Um só desejo: o desejo de não sofrer...
Não sofrer por amor, não sofrer de dor...
Talvez esperar pelo novo dia amanhecer,
Com diferentes brilhos para cada cor.

Uma só vontade: a vontade de viver em paz.
Poder assumir os erros e não poupar esforços para revê-los...
Quem sabe convertê-los, buscando a redenção uma vez mais,
Ainda que o tempo não implique na isenção de novamente cometê-los...

Um sabor único: aquele que nutre a liberdade.
Um sabor que sobreponha-se aos dissabores que temperam as incompletudes vividas...
Uma experiência sensorial que não confunda o paladar e conduza à verdade.

Sim, a vida pode resumir-se em um só desejo ou uma só vontade ou um só sabor...
Mas a vida tem um sentido muito mais amplo, mais abrangente
E que extrapola todos os sentidos na direção do caminho a ser seguido, seja ele qual for.

sábado, 5 de setembro de 2015

Intermitências da Vida

Parecia aquela mais uma chance de tê-lo por perto...
Então resolvi arriscar e abri mão daquilo que parecia certo...
Decidi buscar a minha liberdade... a liberdade de viver...
Viver sem encarcerar a minha alma... viver até morrer...

Busquei amores, prazeres, sonhos, ideais, realizações...
O que mais encontrei foram desilusões, fracassos, tristezas, decepções...
Consequências das péssimas escolhas que fiz...
E agora, inevitavelmente, sinto que tudo parece estar por um triz...

Não penso em voltar atrás e fazer diferente...
Talvez ainda possa reparar alguns erros, cometer mais acertos
E correr atrás da tão desejada paz, sem que tudo seja tão intermitente...

Hoje apenas tento entender o meu silêncio, a minha ausência...
Tento transformá-las em ações, em resultados... e tento seguir adiante,
Fazendo cada coisa a seu tempo, contando com compreensão e paciência...

 


Scalene - Surreal